A nova produção original da Netflix, Passei Por Aqui/I Came By com direção do britânico-iraniano Babak Anvari (Sob a Sombra, 2016), cujos dois filmes anteriores também estão disponíveis na plataforma de streaming, parte de argumentos bem previsíveis para tomar forma própria. O atual cenário da imigração na Inglaterra, que deixa diversos estrangeiros desesperados por amparo, e sob uma crescente marginalização, assim como o campo político e social inglês são o pano de fundo onde o filme ocorre. Nele acompanhamos Toby Nealey (George MacKay), filho da psicóloga Lizzie (Kelly Macdonald), um jovem que ainda não encontrou direção na vida, muito por conta da atitude irreverente e inconformado com a sociedade, tendo como segredo sua identidade como o pichador responsável pela marca "I Came By", que ganhou notoriedade por se tornar o terror dos ricaços preocupados com a defesa da propriedade privada.
O amigo (de etnia negra) de longa data, Jay (Percelle Ascott) está saindo do esquema de pichação ilegal para tentar cuidar da namorada grávida, a imigrante Naz (Varada Sethum), logo quando Toby encontra o local ideal para a próxima, na residência do ex-juiz, Hector Blake (Hugh Boneville) onde Jay esteve trabalhando. Agindo sozinho, a invasão ocorre mas não sai como esperado quando encontra fotos e o local onde o homem esconde um segredo. O resto o telespectador pode prever. Ou não.
O dimensionamento dos conflitos entre os personagens é que gera o grande diferencial aqui, saindo do cerne comum onde costuma estarem histórias do tipo, expandindo a premissa para atingir a mensagem que pretende alcançar. Há espaço para cada um assumir ou estar em foco da narrativa, em determinado ponto temos Liz no comando, como uma mãe determinada a desvendar o mistério por trás do desconhecido. Blake está sempre atento com o sistema de segurança, faz saídas mas deixa a casa aberta, e até mesmo chaves como uma grande piada brincando com o telespectador que acompanhará sem poder fazer nada suas próximas ações. Partindo da sala de atendimento da psicóloga, onde Faisal (Antonio Aakeel) desempenha notável função, até o drama de Jay com Naz, o roteiro escrito por Anvari e Namsi Khan é bem amarrado, e esforçado em criar e sustentar subtextos e ligações. A cena onde entrega as informações necessárias para entender as motivações do vilão é um momento a se destacar pela forma como planeja uma dinâmica, onde testemunhamos melhor sua forma de cometer crimes.
Anvari opta por encerrar o filme ao som da famosa balada do Tears for Fears, Everybody Wants to Rule the World que não por acaso, de relevância lírica com alusão à corrupção humana e política, tem a voz de Roland Orzabal, de descendência espanhola e argentina, além da banda ter sido grande representante nos anos 80 do espírito rebelde e revolucionário que também acompanha alguns dos personagens, e diria que encerra bem todo o intuito em refletir através dessa experiência do cinema de gênero a nossa força enfraquecedora diante do sistema burocrático e injusto que dita nossas vidas.
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