Eu não lembrava de "O Telefone Preto", o conto presente na antologia "Fantasmas do Século XX" do Joe Hill, embora tivesse certeza que tinha lido, e o relendo entendi porque havia esquecido. O objeto de comunicação fantasmagórico e uma pequena passagem envolvendo a irmã do protagonista eram as únicas coisas que podiam ter ficado na minha memória, se tivessem sido utilizados pra alcançar um impacto ainda maior, o que não acontecia embora fossem elementos que provocassem a imaginação. Depois de quase um ano desde a estréia no Fantastic Fest, a Universal lança em VOD (este texto data originalmente em 14 de Julho) o filme, depois de uma série de adiamentos que já haviam tirado qualquer interesse meu em conferi-lo... E permaneceria assim se não o maldito acaso da oportunidade do momento.
Ambientado na década de 70, Scott Derrickson, C. Robert Cargill e Joe Hill adaptam o conto preenchendo de bons argumentos em torno do background de Finney (Mason Thames) mas escrevendo-os no roteiro da pior forma possível, no sentido americano de cinema de ser. A relação dele com a irmã, Gwen (Madeleine McGraw), que é uma graça de personagem, é marcada por ter um elo bastante interessante que flerta com o universo mítico do Stephen King, mas que vira um elemento ultra-mega-expositivo aqui. Sendo cheio de coisas explicadinhas demais em torno disso, quando poderia ter sido uma informação explorada menos excessivamente, que toma mais tempo de tela que o mascarado misterioso do Ethan Hawke, que pela capacidade do ator e os ótimos designs das máscaras, poderia torná-lo um novo ícone do terror.
Mas não é o que vem a ser, enquanto pioram cada vez mais a coisa sobrenatural da história, com uma solução de representação fantasma lamentável, que é repetido de forma abusiva. Poderiam ter dado mais valor a construção cênica mais básica e eficiente de todas: um porão decrépito, um garoto, uma chamada, sons do além e sussurros, mas Derrickson de alguma forma com o passar dos anos desaprendeu a dirigir um filme. Talvez a Marvel seja mesmo capaz de provocar esse tipo de sequela nas pessoas. O pior é que todo o acréscimo narrativo ainda não é útil para contornar o twist ruim que dão continuidade do conto. Jeremy Davies como o pai abusivo, e James Ransone como Max, um desajeitado obcecado com o rastro de desaparecimentos são a verdadeira definição do que ingleses gostam de chamar por "awful" e "messy" atuando, ao contrário do elenco infantil que é bem competente. O melhor momento acaba por ser quando Robin Arellano (Miguel Cazarez Mora) fala com tanto entusiasmo de O Massacre da Serra Elétrica (1974). A cena final que existe pra encerrar uma coisa de representação da construção de herói em cima do garoto no ambiente escolar, não poderia ser mais irritante. E óbvia, boba. Como todo o resto.
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