Com uma recepção bastante modesta e positiva no SXSW (Festival South by Southwest) este ano, Sissy esteve arrancando comentários de diversos admiradores do gênero de horror, como uma bela surpresa. Descrito como um thriller psicológico slasher, e dirigido pela dupla formada por Kane Senes e a atriz, Hannah Barlow, se trata de uma produção diretamente realizada na Austrália. País conhecido por ter estradas que são o território de Mick Taylor, da franquia Wolf Creek, e já alertando, Sissy reproduz fielmente a veia cômica e sádica dos filmes do grande vilão, assim como o gore, tendo inclusive violência animal.
A narrativa acompanha Cecilia (Aisha Dee), uma influencer em mídias sociais, que diz querer promover energia positiva e também fazer seus milhares de seguidores se sentirem "especiais". Ela é atormentada por eventos de infância, que são inseridas em flashbacks durante o decorrer. A retomada de contato com a sua grande ex melhor amiga daquele período, Emma (Hannah Barlow) de forma ocasional marca o início do caos em sua vida. Ao aceitar a proposta de viajar para o campo com Emma, sua noiva, Fran (Lucy Barrett), e os amigos, Jamie (Daniel Monks), Tracey (Yerin Ha), e outro grande fantasma do passado de Cecilia, Alex (Emily De Margheriti) vemos as engrenagens de seu funcionamento se desestabilizarem, a levando por um caminho inconquentemente drástico.
Sissy é o termo pejorativo normalmente usado para ofender jovens de traços afeminados, e também era o apelido carinhoso de nossa protagonista, que na boca das meninas malvadas que a excluíam, virava uma arma para constante humilhação. O entoar das vozes ainda ecoa pela mente de Cecilia, pouco a pouco voltando a enlouquecer conforme ela volta a ser perturbada por Alex, que faz questão que ela reviva os piores momentos quando criança. Uma promessa para serem melhores amigas para sempre com Emma, também carrega peso quando as coisas ficam seriamente fodidas em Sissy. O roteiro da dupla de diretores contorna o traço sensível em volta da linha tênue do descontrole e loucura consciente, montando pouco a pouco um quebra-cabeças que esclarece as ações da mulher, e alerta de um perigo latente, prestes a ser estourado.
Sissy é como uma paródia que procura tirar sarro da atual geração, considerada vitimista, com personagens e humor cartunescos. A sobriedade de tom desaba conforme a protagonista também deixa de estar sã, com uma descida violenta pela loucura, revela como o desespero por aprovação, e problemas mentais reprimidos podem criar novos tipos de monstros, com uma sagacidade para esconder o lado tóxico e conservar suas boas imagens. Se encerrando como um exemplar sangrento, reproduzindo a estrutura batida do gênero slasher. Reserva momentos de insanidade e também procura exibir bastante carnificina na tela, mas nem todo o texto e a boa proposta são capazes de garantir uma ótima execução. Para aqueles que não apreciam comédias obscuras, com twists absurdamente perversos, Sissy não é um exemplar dos mais recomendáveis, quando muitas das sacadas podem ser vistas com maus olhos, ou impaciência pela previsibilidade dos eventos.
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