sábado, 21 de maio de 2022

Dual (2022)


Quando o grego Yorgos Lanthimos realizou seu primeiro grande projeto internacional com O Lagosta (2015), dificilmente contava que sua obra distópica seria uma das mais influentes, para o bem ou mal, dos cineastas independentes futuramente. Ou seja, o agora. 


Riley Stearns é o americano que há três anos nos entregou o vigoroso, A Arte da Autodefesa (2019), que continha uma acidez admirável ao observar os princípios primitivos que permanecem na modernidade através da hierarquia, códigos, força e violência. Além de todos comentários sobre a masculinidade, claro. Seu retorno com Dual, participante do Festival de Sundance em Janeiro, e agora disponível em VOD nos EUA, parece ter o mesmo ponto de partida ao mostrar o percurso de Sarah (Karen Gillan), para recuperar sua vida de seu duplo, mas qual não é a surpresa ao notar tanta opacidade e insípidez em toda a forma de compor planos e criar cenas. O que não remove por completo sua tentativa de autenticidade, mas bem... prejudica alcançar seja lá qual for o impacto desejado, ainda que seja curioso.


A abertura traz Theo James (que pode ser vista agora em A Mulher do Viajante do Tempo), numa confusa disputa de vida ou morte com alguém desconhecido no horizonte, que não demora para descobrirmos se tratar dele mesmo... e que este é o duelo institucional promovido como medida pelo governo quando por acaso, os corpos originais que solicitaram um substituto, acabam não partindo desta para o melhor, para que a duplicata assuma a vida deste, e já é muito tarde para simplesmente eliminá-los quando dispõem de autonomia.

E daí para a frente não é difícil prever o que reserva para nossa protagonista, Sarah, que possui uma relação de difícil convivência com a mãe (Maija Paunio), mantém um relacionamento morno com Peter (Beulah Koale), até descobrir ser portadora de uma doença rara que garantirá que ela estará morta em breve. A solicitação pelo seu duplo é feita com quase todo o sucesso, o problema é quando os meses passam e ela ainda não está morta.

Ela então contrata os serviços de treinamento de combate de Trent (Aaron Paul), para se preparar para duelar com a outra Sarah. Gillan e Paul tem um bom entrosamento, mesmo que nada no conceito criado aqui tenha a função de ser envolvente emocionalmente. Se não há uma acidez presente no roteiro de Stearns, existe um humor mórbido como nas fitas que a personagem precisa ver em seu preparamento, que o faz parecer ainda mais próximo do filme de Lanthimos, ao tentar provocar desconcertamento no público pela indiferença expressada nos personagens ao ter que encarar morte e violência. O conteúdo nos DVDs é até divertido pela absurdidade encenada.

A outra Sarah, não é alguém que conhecemos; sabemos que sua personalidade é moldada mas Stearns pula todo o processo que poderia render discussões maiores, caso quisesse fazer algo espelhado no famoso livro de Dostoiévski, O Duplo. Confesso ainda enxergar algo de bom nessa quebra de previsibilidade, mas ao encerrar é difícil levantar qualquer questão duradoura, quando a insatisfação reina em todo o redor da protagonista, mesmo que seja desperto nela a vontade por permanecer viva, e talvez seja para isso que o filme é destinado, um conto estranho para se expressar um vazio na relação existencial com nós mesmos.

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