O medo do desconhecido, por formas de vida de outros mundos, sempre foi um dos principais motores de criação do gênero de horror e ficção científica. Lovecraft que o diga. O Enigma de Outro Mundo (1982), que este ano completa quatro décadas desde o lançamento, ainda é o grande representante que lida com essa abordagem, por nos colocar diante de um horror mutante e grotesco. A produção canadense, Slash/Back que conta com a direção de Nyla Innuksuk (a co-criadora da Guarda de Neve nas HQs da Marvel), homenageia a criação de John Carpenter sob o olhar do cinema independente nativo atual.
Filmado na Ilha de Baffin, acompanha a chegada de um mal desconhecido e voraz que se inicia no círculo ártico, até se aproximar do vilarejo de Pangnirtung, uma região isolada do resto do mundo. Um quarteto de meninas, lideradas por Maika (Tasiana Shirley) e Uki (Nalajoss Ellsworth), é que fazem a descoberta, após o contato com um urso polar de comportamento atípico. Sofrendo com o desatento dos pais, que preferem ficarem bêbados a dar atenção aos filhos, assim como outras dificuldades e responsabilidade familiares que recaem nas costas dos jovens do vilarejo, o roteiro escrito por Ryan Cavan busca discutir dentro desse cenário como os menores são os mais suscetíveis a confrontar males, estando sob risco de marginalização. O tom é desesperanço, até a ameaça de outro mundo acabar promovendo a união entre elas. Relembrando fórmulas de sucesso como a de Stranger Things, o trabalho com o elenco adolescente cativa, assim como o empenho em dar forma ao horror com efeitos práticos e maquiagem.
A nojeira gráfica não é aliviada por lidar com um elenco tão juvenil, oferecendo transformações de body horror bastante desconcertantes, embora não haja tantos confrontos violentos. A ameaça mutante quando possui o corpo humana é tão desajeitada que recorda os trejeitos de Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno (1995). Há subtextos políticos que não ganham melhor tratamento como poderia, como a tentativa de abordar a violência e discriminação policial em comunidades nativas. Os adultos, assim como os garotos estão distantes do grupo protagonista, que primeiro resolvem a oposição existente em seu próprio grupo, para depois sozinhas tentar salvar o mundo, e conseguir se tornar heroínas por um dia. Semelhante ao que ocorre em Predador: A Caçada, é bastante alinhado em oferecer uma boa representação nativa e de gênero, com elementos de coming of age, com jovens ainda no processo de formação de identidade, desbravando o mundo. Sendo uma aventura de gênero efetiva, mesmo que não se solidifique como um grande exemplar a lidar com os conceitos de horror alienígena.
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