quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Hypochondriac (2022)


Amadurecer é um processo longo e doloroso, principalmente tendo marcas tão profundas deixadas logo na infância. Addison Heimman compreende esse dilema em seu filme de estréia como diretor, Hypochondriac aonde espelha suas experiências de vida sendo um homem latino-americano gay. Com passagens por diversos festivais de gênero, embora tenha sido planejado dentro da estrutura de um filme de horror, se trata de um projeto pessoal e bastante corajoso por ilustrar a sua difícil batalha com a saúde mental.


Will (Zach Villa) carinhosamente apelidado de "Lindo" pela mãe na infância, cresceu num lar arruinado por um episódio violento a partir que ela (interpretada por Marlene Forte), começou a dar indícios de um desequilíbrio psicológico, quando a insegurança e desconfiança com o marido (Chris Doubek) aumentaram. O período parece ter ficado no passado, quando Will se encontra num relacionamento instável com Luke (Devon Graye), e vive do trabalho produzindo peças de argila e porcelana, até que começa a ser contatado pela mãe, o que desperta toda a insegurança e inquietação em sua mente. Como se tivesse vivenciando o mesmo estado mental da mãe, é então que acompanhamos a degradação psicológica numa descida infernal para a loucura do personagem. A perturbação do personagem é materializada com visões de uma pessoa vestida de lobo, que cada vez mais se aproxima, ameaçando entrar em contato físico com Will. As reações para se distanciar da besta geram um colapso com consequências drásticas e bastante severas, que viram a sua vida do avesso. 

Hypochondriac se coloca no limiar entre a perda da sanidade e o completo descontrole, sendo um retrato honesto e bastante brutal de uma mente perturbada. Quando nem mesmo Luke pode auxiliar o amado, tudo parece um caso perdido, e a solidão na batalha travada consigo mesmo é outro elemento destacado no roteiro de Heimann. Muitas vezes transpor os lapsos na tela demonstra a limitação da realização em termos de orçamento, ainda que a direção consiga contornar com o estudo de personagem que propõe, tendo soluções bastante criativas como resultado do esforço de equipe. Passagens envolvendo sexo e nu frontal terminam por ter uma atmosfera bastante perturbadora, atenuando parte da carga sexual e erótica de expor os atores de forma íntima por exemplo.

Heimman certamente teve muita influência por Donnie Darko (2001), pela forma como escolhe exibir o declínio psicológico do protagonista ao trazer a figura animal em tela. Tal como Frank no famoso filme, o animal é a materialização dos problemas geracionais de Will, dos diversos traumas ocasionados pela relação com os pais. Will é bem resolvido com a própria sexualidade, ser gay não parece um fator tão agravante, mas lidar com estar num relacionamento saudável sem a influência nociva das figuras paternais sim. Depois de tanto caos, Hypochondriac se encerra de forma positiva, como uma demonstração sobre como lutar com a própria mente pode ser uma verdadeira história de horror, e também como aprender a estar próximo e tratar dos demônios internos é necessário para se seguir em frente.

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