quarta-feira, 7 de setembro de 2022

What Josiah Saw (2021)


O espírito gótico, marcado pelo sobrenatural, loucura e a morte move What Josiah Saw, filme concebido pelo californiano Vincent Grashaw (dos chocantes dramas sociais Coldwater e And Then I Go) que assume direção, produção e edição. Recebido com diversos elogios desde o Fantasia Film Festival, chegou a estar em diversas listas como um dos grandes títulos do horror em 2021. Tendo chegado no circuito brasileiro através do Fantaspoa em Porto Alegre meses atrás. E lançado na Shudder em Agosto passado.


What Josiah Saw demorou cerca de seis anos para enfim ver a luz do dia, vindo na nova onda de thrillers independentes e autorais, e temos um bom vislumbre de um projeto tão bem cuidado e original. Percorre por cenários atuais nos Estados Unidos, confrontando a vastidão desoladora herdada das pequenas e caóticas comunidades rurais, e sobretudo os demônios que advém do seio famíliar nesse espaço. O elemento gótico é o motor espiritual para o exercício de gênero e storytelling que Grashaw e o roteirista, Robert Alan Dilts habilmente vão construindo, estabelecendo a narrativa em capítulos, que se desenvolvem antologicamente e se complementam em tempo. Tudo começa com o interesse na compra de uma propriedade de terras no Texas, uma fazenda no nome da família Graham. Tommy (Scott Haze) e o patriarca Josiah (Robert Patrick) são os únicos administradores presentes, a convivência no entanto, é ditada de forma estranha. O homem que teve uma vida recém arruinada sem muitas explicações, na casa em que cresceu ainda se vê nas sombras do poder paterno. Josiah tem um porte arrogante e de ar violento, parecendo gostar de exercer um controle nocivo no filho. Uma história de fantasmas permeia o local, considerado amaldiçoado por uma tragédia do passado entre a família. É então que uma noite, Josiah tem uma visão que inexplicavelmente promoverá uma futura reunião com seus outros filhos, para uma espécie de acerto de contas e mágoas. O capítulo inicial termina e corta para acompanharmos divididamente o ex-presidiário, Eli (Nick Stahl) e a dona de casa deprimida, Mary (Kelli Garner) imersos em suas diferentes realidades.


Tentando pagar uma alta dívida, Eli é forçado por Boone (Jake Weber) a adentrar um acampamento de ciganos, que guarda algo de valioso. É quando Grashaw vai promovendo uma experimentação narrativa, o Capítulo de Eli reserva momentos de horror paranormal e tensão criminal, como a que estamos acostumados a testemunhar no cinema de S. Craig Zahler, ou mesmo Vince Gilligan. Com um interessante momento que nos contextualiza nos terríveis eventos da 2⁰ Guerra Mundial, é uma incursão sobre a ganância em confronto com o bom moralismo que Eli tenta preservar. Afinal Stahl continua tomando forma do nosso salvador, John Connor. Ou é o que acreditamos por um instante, até o seguimento focado em Mary e o posterior, com a reunião de família nos colocar perante grandes revelações.


What Josiah Saw tem uma concepção audaciosa para discutir os males que herdamos de nossa família, como resultado de problemas geracionais, como alcoolismo, depressão, psicose, ou até danos irreversíveis como a remoção de um útero (!). Há uma maldição, uma força sobrenatural que planeja colidi-los mas o horror é fruto das relações pessoais, e é nesse plano que Grashaw finca bem raiz. Robert Patrick não está a frente de toda a ação, mas no pouco em que aparece é assustador e autor de ações doentias. Scott Haze, que também investiu na produção do filme é notável pelo semblante frustrado e frágil, ainda como a criança que era quando sua vida começou a desmoronar. Mas nem tudo é digno de elogios, o último ato é tomado por uma força feroz e quando introduz um novo ponto de vista, parece desabar toda a construção vista até ali, como um castelo de cartas enfrentando uma ventania. Terminamos sem reação, tendo que engolir sem saber como processar o que acabamos de presenciar, mas é difícil não ter aproveitado o caminho até ali.

Vejam o filme legendado aqui.

2 comentários:

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Não é possível singularizar o cinema, sendo um vasto campo de linguagem visual e sonora. Pode ser um refúgio, quando não queremos nos inteir...