terça-feira, 5 de julho de 2022

Dashcam (2022)

Quando Rob Savage obteve popularidade mundial em 2020, ao lançar Host, um filme declarado como "um produto da pandemia" por utilizar o formato Screenlife, se concentrando em um chat de reunião no Zoom, mas com grandes suspeitas de ter sido realizado antes, ficou claro como o diretor britânico é muito perspicaz em entender e saber como usar um momento propício a seu favor. Dashcam é resultado de um contrato com os estúdios Blumhouse, que parece ter optado por nem levá-lo as grandes redes de cinema, sendo lançado muito tempo após a estréia no Festival de Toronto em 2021, devido uma polêmica por conter um certo teor ofensivo, e ao ver agora é fácil concluir como é uma tarefa difícil para ele encontrar algum público.


Dashcam gira em torno de Annie Hardy, uma personalidade popular de música que interpreta si mesma, agindo como uma vigilante noturna e quebrando as normas de restrição do covid-19 para produzir conteúdo ao seu blog de livestream, que funciona como um espaço de total liberdade de expressão, utilizando a dashcam, o equipamento de câmera instalado no retrovisor de seu carro, embora para poder cobrir a ação Savage utilize recursos de vídeo paralelos. 


Hardy se porta desafiando padrões como uma representante anti-vacina, sendo irreverente e boca suja, e por diversas vezes irritante para aqueles ao redor, em especial ao amigo Stretch (Amar Chadha-Patel) de quem invade a residência, demonstrando noção alguma de modos educados. A personagem de Hardy é o famoso caso de pessoa na hora certa e lugar errado, ao ir parar num estabelecimento para uma entrega de delivery e aceitar por uma quantia de dinheiro transportar de um lugar ao outro uma senhora desconhecida de aparência debilitada, Angela (Angela Enahoro), sem maiores explicações. A partir daí posso afirmar que Dashcam é um filme de gênero por usar a constante tensão como combustível, mas que se trata muito menos de uma história de horror, quanto mais as lacunas e suspeitas vão se esclarecendo e percebemos o quanto Savage está nos tirando da narrativa convencional do gênero, e mais interessado nas provocações onde Annie é a grande estrela por ser uma persona non-grata, e o plot de horror apenas a consequência dessa brincadeira, o que rende algo extremamente divertido. 


Sendo o Screenlife uma sub-categoria do Found Footage, as fragilidades são as mesmas características do outro gênero da câmera em primeira pessoa, como o exagero gráfico nos momentos finais e a resolução frustrante de seu mistério. Mas é extremamente eficiente como um trem descarrilhado em direção a adrenalina e humor, que SIM, tendem a ser ofensivos ao cenário atual, mesmo que a Blumhouse tente se esquivar da conversa, mas é por possuir essa leveza inconsequente que se torna muito satisfatório, e como os seus minutos de créditos finais com o beatbox de insultos feitos por Annie a todos executivos e colaboradores, é PRECISO saber como não o levar a sério.

Assista Dashcam aqui.

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